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O Mito da Independência - Artigo

  Ironicamente, adoro aniversários, mas odeio todo começo de ano. O fato é irônico, porque eu comemoro mais um ano de vida no 3° dia de janeiro; então, por mais que eu goste muito do dia do meu aniversário, esse sentimento é diluído em doses de medo e ansiedade em razão das grandes expectativas mundiais depositadas nos próximos 12 meses. Eu julgo demais a galera que fala que tal ano vai ser diferente do outro, apesar de eu fazer de forma idêntica àqueles que suportam o meu julgamento. É como se, magicamente, de um segundo para o outro, fôssemos nos tornar outra pessoa, com uma nova vida, novas esperanças, novos ideais… Só que, no final, não passa de um suspiro de 23h59 a outro que nos leva às 00h do ano seguinte.  É como se a nossa felicidade fosse toda e milagrosamente  responsabilidade do ano novo. Mas, somos assim mesmo. Colocamos a nossa felicidade sempre nas costas de alguém, de algo, de alguma data. E nunca sob o nosso encargo. E foi nessa de descobrir que eu deveria fazer eu mes
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Resenha Nós

Considerado o precursor do gênero de ficção futurística, Yevgeny Zamyatin em sua obra "Nós", cede as páginas a D-503 que as torna um manuscrito direcionado à uma sociedade até então não conhecida e, por isso, selvagem, insociável. A história se passa em uma cidade-estado comandada por um Estado Único, gerenciado pelo Benfeitor, que é a autoridade máxima de seus súditos, os números. Lá, se vive um mundo baseado na racionalidade, na matemática, no padrão e igual, na exatidão. A distopia conta a vida de D-503, que era um devoto ao regime totalitário do Benfeitor que construía o INTEGRAL, que é uma nave que tinha o objetivo de civilizar novas populações e "forçá-las a serem felizes". Entretanto, após conhecer e se apaixonar por E-330, se vê em duas pessoas. Por um lado, se tem D-503 matemático e racional, aquele que vive cada instante à vista de todos e preza o 'nós', o conjunto; por outro lado, se tem D-503 individual e não mais coletivo, o que ama e sente.  No

Sobre entender que não controlamos absolutamente nada

  "Há um verso de Verlaine que não tornarei a lembrar. Há um rua próxima que está vedada aos meus passos. Há um espelho que me viu pela última vez. Há uma porta que fechei até o fim do mundo. Entre os livros de minha biblioteca (cá os vejo) há algum dia que já não abrirei".   (BORGES, 1949) Há, em todas as coisas um limite. Pensando no momento da pandemia e em como toda essa catástrofe gera em nós um medo ainda maior e mais acentuado com relação à morte e o nosso fim, essa citação quase que perdida entre as páginas de um livro qualquer da faculdade, nos passa uma mensagem muito clara sobre a humanidade e tudo o que tem vida: algum dia deixará de ter. Em algum momento, cedo ou tarde você dará o último beijo em alguém, escolherá a sua última roupa, comerá pela última vez a sua comida favorita. Escrever isso é tão duro que chega quase a me fazer suar pelos dedos. Todavia, infelizmente é a verdade. A vida é curta e aceitar que para tudo há um fim, é o único modo de aproveitarmos

Reflexões sobre O que é Fascismo? E outros ensaios

"Vivemos uma época na qual a democracia está em retirada em quase todo lugar, em que super-homens estão no controle de três quartos do mundo, em que a liberdade é descartada na explicação de insidiosos professores, em que o espancamento de judeus é defendido por pacifistas. E ainda assim, em toda parte, sob a superfície, o homem comum agarra-se obstinadamente às crenças que ele vai buscar na cultura cristã. O homem comum é mais sábio que os intelectuais, assim como os animais são mais sábios que os homens. Todo intelectual é capaz de lhe fazer uma esplêndida defesa do esmagamento dos sindicatos alemães e da tortura dos judeus. Mas o homem comum, desprovido de intelecto, que tem apenas instinto e tradição, sabe que 'isso não está certo'." A não ser pela data original de 1940, o texto poderia facilmente ser considerado de hoje ou algumas semanas. O quão relevante é a fala de Orwell para a nossa atual conjuntura política e social é imensurável. Ele nos mostra que a nossa

Resenha Admirável Mundo Novo

Clássico e distópico, Admirável Mundo Novo conta a historia de uma sociedade pós fordista que prioriza a praticidade, a quantidade ao invés da qualidade, a funcionalidade e velocidade. Pode ser muito bem expressa pela modernidade líquida de Zygmunt Bauman. Sociedade do macarrão instantâneo que busca o prazer momentâneo através de drogas (no livro denominadas "soma") e sexo (promiscuidade); e a nunca vida vivida de forma natural: Esconde-esconde de sentimentos. Escolhem não sentir nada por nada e ninguém. Dentro das páginas se vive um mundo admirável cuja ordem reina. Vale ressaltar que o lema do Estado Mundial é "comunidade -  a população é dividida em castas, que ia da mais ignorante e serviçal até os mais inteligentes que eram servidos pelas classes menores - identidade e estabilidade - que fica evidente, ao saber que são 'anti-mudanças'" Quando se fala "Estado Mundial" fica claro que o autoritarismo e o totalitarismo são os alicerces que sustent

Resenha A Sutil Arte de Ligar o Foda-se

 Irônico, descontraído e despojado, Mark Manson em "A Sutil Arte de Ligar o Foda-se", fala com uma ousadia nova, até então não vista, em um livro de autoajuda. Como uma conversa entre amigos, o autor tem uma escrita muito clara e objetiva. Fala de temas comuns de formas diferentes às padrões. Bem humorado, o blogueiro mostra, sucintamente, que o importante é o que importa.  Não seremos bem sucedidos em todas as facetas da nossa vida e, por isso, devemos escolher o que realmente importa e ligar o foda-se para o restante. Devemos escolher nossas batalhas. Fala que "a verdadeira felicidade só se dá quando você descobre quais problemas gosta de ter e de resolver". Em outros momentos, mostra a diferença entre culpa e responsabilidade. Neste âmbito, usa o exemplo de um bebê sendo deixado em sua porta: a culpa do bebê estar lá não é sua; todavia, a responsabilidade é. Você deve decidir o que fará com ele (se levará a polícia, adotará, etc). "Muita gente pode ser culpa